Instituto de Cegos da Bahia inaugura centro de música com Brown, que comemora: “estamos aqui para dizer que deu certo”

Creditos da foto:Bruna Castelo Branco

Depois de cinco anos de espera, obras durante a pandemia e muita expectativa, o Instituto de Cegos da Bahia (ICB) realizou o sonho de inaugurar Centro Musical Imaginasom, um projeto da instituição e de Carlinhos Brown, que cresceu visitando o ICB, no bairro do Barbalho, em Salvador.

O artista participou da abertura oficial do Imaginasom nesta terça-feira (7/6), e conversou com o De Frente Com O Povo, sobre a importância de um novo espaço que celebra a música em uma cidade tão musical quanto a capital baiana.

“Quando as pessoas perguntam se eu ajudei o Instituto de Cegos, eu digo que não, o contrário. O Instituto de Cegos que faz parte da minha vida desde a infância. Eu estou nessa casa aqui por mais de 40 anos, muito mais. É uma honra quando essa casa confia que eu posso comunicar algo de positivo. Nós estamos aqui para dizer que deu certo. É necessário que os nossos deficientes visuais, e outros com baixa visão, sobretudo crianças que são aqui assistidas, tenham um acolhimento. É necessário esse estúdio. Eram bem precárias as condições que se tinham. Nós não desistimos. Tudo o que aprendi de social, aprendi aqui”.

SONHO

O Imaginasom vai oferecer aulas de iniciação musical, canto, percussão, piano, teclado e violão para pessoas cegas ou com baixa visão atendidas pelo Instituto. De acordo com João Gomes, conselheiro do ICB, a ideia é que o estúdio, dividido em três espaços, seja a sala de aula de até 80 pessoas por dia.

À reportagem, ele explica que o ICB já oferecia aulas de música antes, mas que, agora, poderá entregar aos assistidos um espaço com mais qualidade.

“Hoje, estamos fazendo a entrega de um sonho. Já existia uma sala de música, porém, sem condições adequadas para ser uma sala de música, sem condições acústicas, instrumentos muito defasados, sem uma qualidade para poder assistir mesmo as crianças e professores”.

O ICB, que atende pessoas com baixa visão ou cegas, foi criada para formar os assistidos para a vida. Além das aulas de música e da assistência oftalmológica, o instituto ensina a usar o transporte público, arrumar a cama, por a mesa, se servir e servir as pessoas, estudar, aprender o braile, aprender a andar com a bengala, dar um passo de cada vez.

De acordo com João Gomes, os pacientes que chegam e são acolhidos pela casa já podem dizer se querem participar das aulas de música ou não. E, para ele, os ganhos em participar são inúmeros: “É música, é arte. A arte é invisível, né, a música é invisível, é atemporal. Então, que bom que eles podem colocar para fora esse sentimento através da música”.

Kátia Cucchi, professora de música do ICB há 23 anos, concorda com o conselheiro e ressalta: “A música na vida de pessoas com deficiência contribui com diversos fatores, não só os musicais, mas, principalmente, os extramusicais”.

ALUNOS

Para o Imaginasom se tornar realidade, foi necessário também o apoio da Fundación Cepsa, que financiou melhorias nas instalações do centro e a compra de novos instrumentos musicais.

E uma das pessoas que sonhava com a conclusão dessa obra é Adair dos Santos, 35, que frequenta o ICB desde os 11 anos de idade. Já naquela época, com a professora Kátia, ele começou nas aulas de música e não parou mais. Hoje, ele canta, toca teclado, violão, bateria e percussão.

“E tudo o que eu aprendi, aprendi no Instituto. E, para mim, é tudo. Eu sempre tive a música na veia, desde pequenininho. E eu nunca acreditei que poderia aprender a tocar um instrumento, nunca acreditei, e nunca imaginei que tivesse um instituto próprio para ensinar deficientes visuais”, diz.

Outra aluna que ficou empolgada com o Imaginasom – e vai aproveitar muito, ela garante -, é Manu Dourado, 14, uma das cantoras mais celebradas do ICB. Assistida pela casa desde os três anos, ela, que canta e toca teclado, comemora: “Eu sempre amei música, então, abrir algo tão bom assim para a música, é ótimo. Canto bastante em casa É algo que amo fazer, e todo mundo vai poder fazer junto comigo”.

Momentos depois, ainda durante a inauguração, Manu cantou “Vilarejo”, de Marisa Monte, junto com Carlinhos Brown. Nesse momento, ela traduziu o significado de “Imaginasom”, definido assim por Brown:

“Todo mundo que imagina, fecha os olhos. É quando você tem um outro tipo de visão. Estamos aqui buscando essa visão da alma, interna, não só as cores que vemos de olhos abertos. Sobretudo, a visão da sensibilidade, imaginar o som, o acolhimento, o afeto”.

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