Copa 2023: Em seu terceiro Mundial, Holanda quer voltar a final e superar o vice de 2019.

As Leoas chegam em seu melhor momento depois de anos com censuras e proibições ao futebol feminino nos Países Baixos.

Atual vice-campeã da Copa do Mundo, a Holanda tem uma história de sucesso recente no futebol feminino. Com apenas duas participações em Mundiais, uma em Jogos Olímpicos e quatro eurocopas, as Leoas já conseguiram um título continental e não querem mais abandonar a elite do esporte.

Origem tumultuada e censura

Apesar da atual fase vitoriosa, o passado do futebol feminino holandês é conturbado e nem um pouco digno às mulheres que praticavam este esporte.

O primeiro relato de um jogo feminino no país ocorre em 1896, quando o clube masculino do Sparta Rotterdam projetou uma partida contra as inglesas do British Ladies. Entretanto, mesmo dispostos a enfrentar as autoridades que eram contra a realização da partida, o clube desistiu da realização do amistoso por conta da ameaça de banimento feito pela federação local.

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Durante os anos que se seguiram, este não foi o único comportamento extremista da entidade responsável pelo futebol holandês em relação ao jogo das mulheres. Mesmo assim, as primeiras partidas femininas aconteceram nos Países Baixos em 1904, com a criação de clubes e outros confrontos acontecendo na mesma década.

Na década de 20, explodem os clubes e jogos organizados para a modalidade, com a maioria dos espaços esportivos e clubes masculinos ameaçados de banimento pela federação local em caso de apoio à iniciativa.

Em 1934, Real Associação Neerlandesa de Futebol (KNVB) intensifica a sua perseguição ao futebol feminino e passa a contar com apoio de autoridades das cidades holandesas para não permitir que as mulheres pratiquem o futebol.

‘O conselho do KNVB chama expressamente a atenção dos conselhos de associação, dirigentes de associações e membros de associações para o fato de que as mulheres consideram o futebol indesejável e, portanto, é proibido disponibilizar campos de jogos para esse fim ou cooperar de qualquer outra forma.’

O mais curioso é que os segmentos sociais intensificam o seu apoio contra o futebol feminino até o final da segunda guerra, quando passam a questionar as medidas da entidade esportiva. Na ocasião, muitos deles acreditam que os esforços femininos durante o período de conflito eram a demonstração de que a chamada “fragilidade” da mulher era questionável e era preciso que um novo debate sobre o assunto fosse realizado.

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Com a sociedade holandesa dividida, surge em 1955 uma Associação Holandesa de Futebol Feminino, que realiza de forma não oficial uma partida entre um selecionado holandês e da Alemanha Ocidental, com triunfo germânico por 2 a 1. Apesar do apelo cada vez maior e até a criação de um campeonato feminino, a entidade é perseguida pela KNVB até cessar suas atividades.

Na década de 70 é fundada a Associação Geral de Futebol Feminino Holandês (ANDVB), que idealiza a seleção nacional do país e passa a ganhar popularidade local. Com os planos da UEFA em apoiar a prática do esporte, a ANDVB foi incorporada pela KNVB e se transformou na Comissão de Futebol Feminino da federação.

Neste período, já existiam cerca de 550 equipes e 8 mil atletas filiadas, com os clubes masculinos criando versões femininas de suas equipes. Entretanto, questões de profissionalismo ainda eram problemas do cenário esportivo local e perduraram até o final do século XX.

Início das competições e longo jejum

Filiada a UEFA, a Holanda passou por um longo período sem conseguir vagas para a Eurocopa e a Copa do Mundo. Em 1984, as Leoas participaram das qualificatórias e ficaram em segundo lugar na chave – dois pontos atrás apenas da Dinamarca – sem chegar a fase final do torneio europeu. A mesma situação aconteceu em 1987, quando empataram em pontos com a Suécia, mas perderam no saldo de gols.

Em 89, a Holanda liderou a chave e conseguiu chegar as quartas de final, caindo perante a Noruega nos play-offs.  Em 91, novamente foram a fase de mata-mata pré-euro, eliminada agora pela Dinamarca. Para a Euro 93, a Noruega é novamente algoz das Laranjas, evitando a estreia dos Países Baixos no torneio continental.

Para a eliminatória continental de 95, não se classificou para a segunda fase caindo perante a Islândia na chave. Em 97, ficou na lanterna da chave e disputou uma repescagem com a República Tcheca, vencendo e evitando cair para o segundo escalão europeu.

Com a entrada das eliminatórias da Copa do Mundo, a equipe nacional seguiu na mesma sina de jejuns de participações. Na seletiva para o torneio de 99, amargou uma terceira posição frente a Noruega e Alemanha, ficando sem vagas e quase caindo ao segundo escalão continental.

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Nos anos 2000, a KNVB iniciou um plano de investimentos para o futebol feminino, pavimentando a criação de uma liga local e maior visibilidade as atletas holandesas. Um ano depois, em briga para a Eurocopa, novamente fica na lanterna da chave e se salva da queda para o segundo escalão europeu. Em 2003 e 2005 acabam os níveis de separação, mas a Holanda segue longe de chegar aos torneios mundial e continental, respectivamente.

Anos de glória, título e vice-campeonato

O ano de 2007 é marcado pela enfim criação da Eredivisie Feminina, coincidindo com outra eliminatória mundial em que o país fracassa mais uma vez. Porém, a situação já passa a mudar dois anos depois, com as holandesas ficando em segundo lugar num grupo com Alemanha, Suíça, Bélgica e País de Gales, classificando-se enfim no torneio continental após vencer a Espanha na repescagem.

E anos de ausência não atrapalharam o primeiro torneio com participação das Leoas. Na fase de grupos, superaram Dinamarca e Ucrânia, ficando atrás apenas da Finlândia na chave. No mata-mata, desbancaram a França na disputa de penalidades e chegaram a uma inédita semifinal contra a Inglaterra, perdendo para as britânicas por 2 a 1.

O fracasso nas elimininatórias de 2011 não abalou totalmente os Países Baixos, que ficaram atrás apenas da Noruega em um grupo com Belarus, Eslováquia e Macedônia. Dois anos depois, para a Euro 2013, as Leoas voltaram a Euro com vaga direta graças a segunda melhor posição de todos os grupos da qualificatória.

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Apesar da boa campanha na seletiva, a atuação holandesa na Eurocopa 2013 deixou muito a desejar. Em um grupo com Noruega, Alemanha e Islândia, a equipe laranja empatou com as germânicas e foi derrotada pelas seleções escandinavas.

A campanha irregular foi o ponto fora da curva de uma evolução cada vez maior da equipe no cenário europeu e mundial. Para a Copa de 2015, chegaram a segunda posição do grupo – abaixo apenas da Noruega por dois pontos – e foram para a repescagem com mais três equipes em busca de uma única vaga. Derrotaram a Escócia em duas partidas eliminatórias e decidiram contra a Itália, empatando a primeira partida e vencendo a segunda.

Na sua primeira Copa, fizeram uma regukar primeira fase ao vencer Nova Zelândia, perderem para a China e empatarem contra o Canada, anfitrião do torneio. Nas oitavas, caíram para o então campeão Japão por 2 a 1 e saíram com a 13ª posição na classificação geral.

A experiência de uma Copa do Mundo foi fundamental para o que veio a seguir. Sediando a Eurocopa de 2017, as holandesas fizeram valer os jogos em casa para fazer uma campanha histórica que marcou a equipe para sempre.

Na primeira fase, derrotaram Dinamarca, Bélgica e Noruega e terminaram a primeira fase com 100%  de aproveitamento. Nas quartas, mantiveram a marca em vencer a Suécia e foram as semifinais, derrotando a Inglaterra por um categórico 3 a 0.

Na decisão, enfrentaram novamente a Dinamarca e conseguiram uma importante goleada de 4 a 2 para sacramentar um glorioso título europeu. Vale recordar que este título quebrou uma sequência de seis títulos continentais da Alemanha, com mais de 12 anos de dominação no esporte continental.

O que parecia uma zebra casual, se mostrou como a boa fase de uma geração que colhia os frutos de uma lenta mudança de entendimento do fuebol feminino em seu país.

Cada vez mais respeitadas e conseguindo reconhecimento popular – além de avançarem a cada ano as pautas igualitárias e de condições técnicas – a Holanda chega a Copa de 2019 mais uma vez pela repescagem, superando Dinamarca e Suíça. No torneio, faz uma nova campanha de 100% de aproveitamento da fase de grupos ao superar Nova Zelândia, Camarões e Canadá, para depois iniciar outra caminhada histórica: derrota o Japão nas oitavas, supera a Itália nas quartas e vence na prorrogação uma favorita Suécia para enfim chegar a grande decisão. Perde para os EUA, mas mostra que o futebol tem mudanças na ordem mundial.

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Holanda na Copa do Mundo 2023

Depois do vice-campeonato, a Holanda seguiu participando de torneios de ponta até a chegada da Copa do Mundo 2023. Nos Jogos de 2020 foram as quartas de final após liderarem uma chave com Brasil, China e Zâmbia – aplicando 10 a 3 nas africanas – e caírem de forma invicta perante as norte-americanas, na disputa de penalidades.

Já na Euro 2022, passou de forma invicta da primeira fase e viu sua trajetória ao bi parar perante a França em um gol sofrido na prorrogação. Para chegar a Copa, não tiveram dificuldades e vão ao seu terceiro torneio mundial com novas pretensões para chegar ao inédito título.

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Para chegar a este sonho, a equipe conta com uma constelação de estrelas de destaque no futebol europeu. Dentre elas, é impossível não falar de Lieke Martens. Peça marcante da campanha do título da Euro 2017 e do vice mundial de 2019, a atacante já foi ganhadora de todos os grandes títulos de clubes do futebol europeu e tem um estilo de jogo que muitos comparam a lenda do futebol holandês Johan Cruyff.

Entretanto, ela não é a única que fortalece os Países Baixos para a competição: a meia Jill Roord, de 25 anos, 85 jogos e 20 gols pela Laranja, também é um dos grandes destaques da equipe na luta pelo título. Além dela, outros destaques são a capitã Sherida Spitse, a maie Danielle van de Dong e a defensora Stefanie van der Gragt.

A Holanda estreia no dia 23/7 contra Portugal em Dunedin, depois encontra os Estados Unidos em Wellington e encerra a primeira fase contra o Vietnã novamente na cidade neozelandesa de Dunedin.

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