Língua de Prata: há sete anos, símbolo da pegação soteropolitana deixava órfãos do prazer e amantes desolados; “é num sorriso que o amor se faz”.
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“Perfume, ok! Roupa engomada, ok! Sapato engraxado, ok! Dinheiro do táxi, ok! Tudo pronto?! Então, simbora para Itapuã! “
Este era o checklist dos saudosos frequentadores de um dos mais emblemáticos e históricos bar e restaurante de Salvador: o Língua de Prata. Reduto da boemia, a casa dos “coroas pés de valsa” assumiu por décadas a responsabilidade de alegrar solidões e abrandar desencantos amorosos.
Em 2015, porém, teve seu “fim” decretado. No dia 11 de março daquele ano, retroescavadeiras derrubaram “simbolicamente” as estruturas do icônico bar e o apetite de longevos indóceis. Segundo a Prefeitura, o processo era necessário para a conclusão das obras de requalificação da região.
No local, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo apontava um projeto com ciclovia, área para roda de capoeira, bem como para convivência de pescadores e apresentações culturais, além de pista tátil, quiosques e equipamentos exclusivos para baianas de acarajé.
As obras custariam R$ 9,3 milhões em investimentos do trecho de cerca de 30 mil m², partindo da Sereia até o Largo de Itapuã. Órfãos do prazer, os frequentadores do Língua de Prata ficaram no limbo.
ESPERANÇA E QUEDA
A expectativa por noites melhores surgiu, no entanto, cinco meses depois quando o bar anunciou um novo lar. Distante da paradisíaca praia de Itapuã, o reduto da boemia soteropolitana passaria a funcionar nos antigos Meu Chapa e Caranguejo do Porto, no bairro do Costa Azul. Mas, lá, o novo point não deu certo.
Para o aposentado Luiz Ramos, a localização não agradou o fiel público. “Eu acho que foi por causa da localização, pois foram muitos anos ali no centro de Itapuã. Era só falar em ‘seresta’ e a primeira opção era Itapuã. Quem chegava no bairro e gostava de música era direcionado para o Língua de Prata e o Jangada”, explica, ao relembrar do resturante coirmão – que dividia não só o muro, mas, também, o público -.
Como uma espécie de nomâde, o Língua de Prata mudou-se, mais uma vez. Agora, com proprietário e equipe de funcionários diferentes, além do nome. Passara a se chamar Lagoa de Prata e estabelecera no final de linha do Abaeté. Novo insucesso.
LUA DE PRATA
Atualmente, o bar e restaurante Lua de Prata, localizado ao lado do Vila Bahiana, também em Itapuã, é um alento aos corações dos frequentadores do saudoso Língua de Prata.
Produtor musical do local, José Ferreira revelou ao Aratu On, que a essência do saudoso bar/restaurante ainda é a mesma. “Aqui, estão garçons, cozinheiras, funcionários do histórico Língua de Prata. A essência se mantém. O dono do Lua de Prata, por exemplo, era um grande garçom do Língua, o Renan”, destaca Ferreira.
Assim como o original, o Lua de Prata é palco para novos artistas da música baiana. “O sucesso do Língua de Prata na época eram as novidades. Tudo que estava tocando, nós levavámos e colocávamos lá. Levamos Asas Livres, Latitude Novo, Tayrone [então] Cigano, Brazilian Boys, Nara Costa…essa foi a receita do sucesso do Língua de Prata”, relembra José, que chegou a ser gerente do Língua de Prata, na década de 90.
LEMBRANÇAS
Na última sexta-feira (22/4), a reportagem do Aratu On visitou o antigo local, onde o icônico bar/restaurante se ergueu e fez sucesso nas décadas de 80 e 90 e conversou com alguns ex-frequentadores.
As saudosas histórias vividas naquele que abrigou, também, talentos precoces da música baiana, fervilhavam na memória de Genivaldo Di Santana, 63 anos. Ironicamente, ele estava sentado numa das escadas – fruto da requalificação do local -, à beira da praia de Itapuã, e onde ficavam as cadeiras do salão de festa do Língua de Prata.
“Eu saia da Liberdade para vir pra cá só para dançar no Língua de Prata. As cadeiras ficavam exatamente aqui, onde estamos. Era bom demais isso aqui, você se arrumava todo, colocava a ‘roupa de domingo’, um perfumezinho e vinha. Aqui, era o seguinte: você entrava, olhava para quem lhe interessava e oferecia um copo (de cerveja) ou um drink. Aí, se aceitavam, você chamava para dançar e aí conversava melhor”, relembra Genivaldo ao mesmo tempo que reflete.