Yan Patrick: com 16 anos e 2,06 m, adolescente da periferia de Salvador é chamado para a base do Sada Cruzeiro.

Creditos da foto:Jefferson Peixoto/Secom

“Não é porque é meu filho, não, mas é um menino de ouro! Quando foi para um campeonato no Rio de Janeiro, a rua ficou em festa”. A fala derretida é de dona Divanete Bonfim. A copeira de 44 anos é mãe de uma promessa do vôlei brasileiro: Yan Patrick, adolescente de 16 anos que, com menos de seis meses praticando o esporte, foi selecionado para a base do Sada Cruzeiro, em Belo Horizonte (MG), um dos maiores clubes de voleibol do Brasil, heptacampeão da Superliga no último dia 8 de maio.

O garoto que cresceu na Liberdade, em Salvador, viu sua vida mudar depois que um “detalhe” lhe abriu as primeiras portas. A altura. Yan tem 2,06 m (e ainda deve crescer!). 

Ele foi assistir ao pai, o lavador de carros Edfran Santana, em uma “pelada” de vôlei, e o tamanho chamou a atenção de um amigo do patriarca, que o indicou para a escolinha do professor Márcio Sacramento, no Subúrbio 360 – equipamento da prefeitura que funciona no bairro de Coutos.

O professor de 42 anos dá aulas no projeto desde o início da iniciativa e descreveu como “intenso” o período no qual o adolescente treinou com ele. “Yan chegou aqui em julho de 2021 e treinou seis meses conosco, todas as segundas, quartas e sextas, além das competições internas aos sábados e domingos, e dos treinos de força na praia. Foi um período intenso. Ele já veio muito empenhado, aprendeu rápido e nós só aperfeiçoamos o seu talento”, comentou ao portal da Educação.

Por outro lado, para Yan, tudo foi “de repente”. “Fui e gostei!”, disse, em conversa por telefone com o Aratu On. “Fui para uma aula experimental e fiz os fundamentos enquanto meu pai conversava com Márcio, que disse que eu tinha futuro, se treinasse”, contou o jovem central.

Ele só não esperava um “trunfo”. Sacramento tinha o contato de Beto, membro da comissão técnica do Sada, e gravava as aulas para mostrar as habilidades do jovem ao colega, que logo quis Yan na equipe. Então, em 20 de janeiro deste ano, ele se mudou para o alojamento do clube, na capital mineira.

APOIO

O Sada Cruzeiro fornece hospedagem, alimentação, bolsa de estudos em escola particular, bolsa de inglês, plano de saúde e ajuda de custo no valor de R$ 400. Apesar disso, Yan Patrick ainda conta com o auxílio dos pais e da avó materna, dona Dinha. “Minha família ainda não quer [que ele mande algum dinheiro]. Ela pensa em mim…”, diz o adolescente, que quer se firmar no vôlei. A fala foi endossada pela mãe, Divanete, em outra ligação:

“Eu estou muito feliz pela vitória do meu filho. Somos uma família humilde, de um bairro periférico, e é uma vitória tremenda ver um jovem seguir esse caminho. Ele quer ajudar, mas digo que não, porque ele está lá só e o custo de vida em BH é alto. Se ele tirar do que tem… não é viável, então a gente ajuda ele”.

MUDANÇA

Na categoria de base do time mineiro, o jovem soteropolitano é o mais alto. Quando encontra o ídolo Isac – também central da Seleção Brasileira -, a história muda, já que o atleta profissional tem 2,08 m. Mas isso não importa tanto quando se tem a oportunidade de conhecer quem se admira. “Já conheci todos os jogadores do time principal”, falou, sem esconder a felicidade. 

Dos profissionais, inclusive, Yan e os outros meninos da categoria herdam os tênis, às vezes. Afinal, não é tão fácil encontrar um par de “solas” 48 para a intensa rotina de treinos. Sob o comando dos técnicos Gabriel e Marcelo Zeni, o jovem treina de segunda a sexta, pela tarde, turno oposto ao que cursa o 1º ano do Ensino Médio. Na quadra, é proibido mexer no celular, mas acontecem algumas folgas nas sextas, além do final de semana. “De vez em quando saio com os meninos da base para comer e passear um pouco”, acrescentou.

Quando perguntado sobre como tem feito para lidar com a distância e a saudade da família, ele garante que está levando bem. Já para dona Divanete é bem diferente. “É muito doloroso, uma saudade terrível. Toda hora quero falar, saber se já tomou banho, se está tudo bem, se já almoçou…”, confessou.

Mas, mesmo longe, faz questão de se mostrar presente: “Dou vários conselhos. Toda hora ‘to’ falando que não quero ele indo pra balada… Falo de tudo, até do cabelo. Digo: ‘não fique se aparecendo poque você ‘tá’ aí e eu to aqui que eu chego aí rapidinho!'”.

A copeira já vivenciava um pouco de outro esporte, o futebol, pois trabalha há cerca de três anos na Cidade Tricolor, o centro de treinamentos do Bahia, em Dias D’Ávila, na região metropolitana de Salvador (RMS), mas nunca imaginou que que o filho fosse seguir a carreira esportiva.

Ela revelou, ainda, que o Esquadrão até quis que ele fizesse teste, “mas ele não quis largar o vôlei”. “O esporte está mudando a vida do meu filho e vai mudar mais ainda”, avalia a mãe, sem esconder o orgulho e demonstrando gratidão ao professor Márcio. 

“A família e os amigos estão orgulhosos. Márcio apostou todas as fichas no meu filho… Chamo ele de anjo. Um anjo que caiu na vida de Patrick”, conclui.

Sobre o futuro, Yan é objetivo, mas sem deixar de sonhar. “Quando eu descobri que tinha talento e vários técnicos disseram que eu tinha habilidade, pensei nisso e decidi continuar no vôlei… Quem sabe uma olimpíada?”.

EM TEMPO

No início deste ano, o jovem foi destaque no Campeonato Brasileiro de Seleções (CBS) representando a Bahia. Confira abaixo a aproveite para seguir Yan nas redes sociais:

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