Copa 2023: Motivada por conquista da Euro, Inglaterra vai com tudo para ser campeã do mundo.

Leoas vivem sua melhor fase e acreditam que este é o seu momento de se tornarem a melhor seleção da Copa do Mundo.

O ano de 2022 ficou marcado na história do futebol inglês. Jogando em casa, com apoio total de sua torcida e em grande atuação contra um adversário lendário no cenário europeu e mundial, a Inglaterra faturou o título da Euro feminina, quebrando um tabu que ia além das mulheres e assolava todo o país: desde a Copa de 66, nenhuma equipe nacional inglesa conseguiu repetir o feito de conquistar qualquer competição oficial do esporte. Isto não só motivou a equipe na sua luta pela Copa do Mundo, como fez toda uma nação acreditar que uma modalidade antes proibida agora é uma das mais amadas em terras inglesas.

Origem, proibição e perseverança

Relatos sobre a prática do futebol são antigos e incertos na Inglaterra, mas é certo que as mulheres sempre estiveram envolvidas de alguma forma na prática do esporte. Com a formação dos clubes de futebol no final do século XIX, pesquisas mostram que a primeira partida internacional entre inglesas e escocesas aconteceu em 1881 na cidade de Edimburgo e foi uma alternativa ao confronto entre homens que ocorreu no mesmo ano.

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Um dos clubes mais notáveis e respeitados na história do futebol feminino é o British Ladies’ Football Club (BLFC), que fez turnês dentro do território britânico, ajudando a popularizar a modalidade.

Com a chegada da Primeira Guerra, o número de mulheres atuando em partidas de futebol aumentou consideravelmente. Dentro disso, muitas delas foram estimuladas a preencher equipes masculinas, enquanto outros clubes femininos foram criados. Vale destacar o Dick Kerr Ladies, o Blyth Spartans e o Carslisle Munitionettes. Estas equipes seguiram populares mesmo após o conflito e até passaram a viajar para outros países do continente, estimulando que cenários como o francês fossem construídos.

Em 1921, a Football Association (FA) proibiu que os times femininos atuassem em campos afiliados à entidade, ameaçando com restrições os clubes ligados a federação. Esta decisão não fez o futebol praticado por mulheres acabasse, mas reduziu drasticamente a popularidade no país.

As ligas amadoras sustentaram a modalidade até o final dos anos 60, quando foi fundada a Associação Feminina de Futebol (WFA). Este grupo, seguindo a tendência que acontecia em outros países europeus, idealizou uma seleção inglesa e uma liga nacional. Este time participa do primeiro campeonato europeu não-oficial e das duas copas pré-fifa de 1970 e 1971.

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Em 72, a FA revoga as restrições antes estabelecidas e a WFA enfim planejou a montagem de uma seleção mais estruturada. Com isso, fez sua primeira partida oficial contra a Escócia, vencendo por 3 a 2. Nos anos que se seguiram, a equipe disputou partidas não-oficiais até a chegada da Euro 1984.

Primeiros anos e fracassos

A Inglaterra chega a primeira Euro, sendo uma das únicas quatro equipes que consegue ultrapassar as eliminatórias regionais. Na disputa, derrota a Dinamarca nas duas partidas das semifinais e vai a decisão contra a Suécia, perdendo o título da competição na disputa de penalidades.

Dois anos depois, retorna ao torneio e dessa vez pega a Suécia já nas semi, perdendo mais uma vez e dando adeus a decisão. Estes resultados acabam sendo as únicas participações da equipe durante os dez primeiros anos da competição. Com pouco investimento e quase nenhum tipo de planejamento em relação ao cenário local, as Leoas foram amargando resultados ruins nas eliminatórias.

Para a Euro de 89, ficaram atrás de Dinamarca e Noruega, perdendo qualquer chance de classificação. Depois, em 91, ficam em segundo na chave apenas atrás da Noruega e vão ao mata-mata que define os classificados a fase final. Sofrem duas derrotas para a Alemanha e dão adeus novamente a Euro. Já para o torneio de 93, lideram a chave com Islândia e Escócia, mas acabam derrotada pela Itália no mata-mata que define vaga.

Nova direção e Primeira Copa do Mundo

O fracasso de 1993 fez com que a FA assumisse o controle da equipe feminina e do campeonato nacional. Para a Euro 95, a equipe inglesa venceu uma chave com Espanha, Bélgica e Eslovênia, derrotando no mata-mata a Islândia em dois jogos. O resultado além de levar o time as semifinais continentais, deu também sua primeira vaga para a Copa do Mundo.

Apesar de retornar ao torneio, as Leoas perderam as duas partidas contra a Alemanha com o resultado de 6 a 2 no agregado. Já a Copa do Mundo deu resultados melhores com mesmo final: ficaram em segundo na chave com Noruega, Canadá e Nigéria, caindo nas quartas novamente contra as alemães.

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Depois de cair para a Espanha no mata-mata que definiria vaga para a Eurocopa de 97, a seleção inglesa tem uma importante mudança técnica. Um ano depois do torneio, a treinadora Hope Powell assumiu o cargo e foi a primeira treinadora em tempo integral da equipe.

Pelas eliminatórias da Copa de 99, as Leoas amargaram a lanterna em um grupo com Noruega, Alemanha e Holanda, precisando assim disputar uma repescagem para se manter no primeiro escalão europeu. Venceu a Romênia em duas partidas e se manteve na parte de cima da tabela continental. Dois anos depois, conseguiu uma vaga à Euro 2001 graças ao segundo lugar na chave e triunfos sobre a Ucrânia na repescagem para o torneio. No torneio, perdeu jogos para Alemanha e Suécia, empatando com a Rússia e amargando a lanterna da competição.

Caindo para a França nos play-offs da Copa 2003, o país sediou a Eurocopa de 2005 e não conseguiu usar o fator casa em sua vantagem, melhorando só um pouco a  sua campanha em relação a edição anterior: Venceu a Finlândia, mas caiu perante Dinamarca e Suécia para ficar novamente na lanterna da chave.

Neste período, os planos da FA em reformular e valorizar a liga feminina já estavam formulados, mas eram adiados graças a instabilidades financeiras vividas pela entidade. Neste tempo, a equipe crescia em termos técnicos e conseguiu uma vaga direta à Copa do Mundo, liderando uma chave com França, Holanda, Áustria  e Hungria. No Mundial, teve importantes resultados ao empatar com Alemanha e Japão, assegurando sua classificação ao golear a Argentina por 6 a 1. Entretando, caiu nas oitavas ao sofrer derrota para os Estados Unidos por 3 a 0.

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Classificada a Euro 2009, a Inglaterra tinha mudanças fundamentais na sua lógica administrativa. Agora, as atletas já tinham contratos integrais e não precisavam mais dividir sua atividade com outros empregos.

Isso facilitou muito a evolução do grupo, que terminou a primeira fase com uma vitória, uma derrota e um empate, chegando as quartas de final como um dos melhores terceiros. No mata-mata, superou a Finlândia (dona da casa) por 3 a 2 e foi a semifinal para desbancar a Holanda por 2 a 1, com gol na prorrogação. Entretanto, ao chegar a final, tomou uma contundente goleada de 6 a 2 sobre a Alemanha.

O crescimento aparente seguia e rendia frutos. Com uma liga agora mais forte e finalmente consolidada, existia um planejamento e um maior cuidado com as divisões de base e o recrutamento de atletas. De volta a Copa do Mundo em 2011, liderou o grupo com Japão, México e Nova Zelândia, mas caiu nas oitavas contra a França na decisão de penalidades.

Jogos Olímpicos e semifinais mundiais

Diferente do futebol, em que Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte tem suas próprias seleções masculinas e femininas, os Jogos Olímpicos tem estas nações competindo unidas sob a bandeira do Reino Unido, que é o agrupamento político que reúne estes países. Em um primeiro momento, a desistência de Escócia, Gales e Irlanda do Norte fazia com que apenas a Inglaterra representasse a “Equipe GB” no evento. Entretanto, novas conversações foram feitas e um time mesclado foi criado para o evento.

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A Equipe GB fez uma grande primeira fase, vencendo Nova Zelândia, Camarões e Brasil. Entretanto, a equipe não resistiu a um imparavél Canadá que derrotou as britânicas por 2 a 0 nas quartas de final.

Na Euro de 2013, a Inglaterra viveu outro grande revés ao ficar na lanterna do seu grupo contra França, Rússia e Espanha. Isto motivou a demissão da treinadora Hope Powell e o início de um novo ciclo no futebol local. Com maior popularidade, uma liga mais forte e altos investimentos,

As mudanças locais e o crescente interesse da população ganharam mais voz por conta da grande campanha realizada na Copa do Mundo 2015. Pelo torneio, a equipe iniciou com derrota para a França e triunfos sobre México e Colômbia. Na segunda fase, passaram pela Noruega nas oitavas, o Canadá nas quartas e caíram perante o Japão nas semifinais. Na decisão de terceiro lugar, conseguiram derrotar a Alemanha e quebrar um longo tabu de 20 jogos sem superar suas rivais.

O torneio registrou o maior indice de audiência da seleção inglesa desde a Copa masculina de 66. Apesar da colocação no Mundial dar vaga aos Jogos de 2016, tentativas de retomar uma Equipe GB pararam em negativas das outras nações que compõem o Reino Unido.

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Na Euro 2017, a Inglaterra voltou a fazer uma campanha que a levou as semifinais da competição. Lideraram o grupo com 100% de aproveitamento sobre Escócia, Espanha e Portugal, eliminaram a França nas quartas de final e caíram diante a anfitriã Holanda, campeã da competição. Ao final da temporada, o treinador Mark Sampson foi demitido por conta de “comportamento inapropriado e inaceitável”.

A Copa de 2019 trouxe esperança a população inglesa, que acreditava no título da equipe no torneio. Outra fase de grupos 100% (vencendo Japão, Argentina e Escócia), triunfo de 3 a 0 sobre Camarões nas oitavas e Noruega nas quartas, parando em um polêmico e duro jogo contra os Estados Unidos nas semifinais. Na decisão de terceiro lugar, foram derrotadas pela Suécia por 2 a 1.

Jogos de Tóquio e Título Europeu

Com um acordo firmado entre as federações britânicas, ficou determinado que em caso de conquista de vagas para os Jogos, a equipe que conseguisse a façanha usaria as cores da Equipe GB nas próximas edições dos Jogos Olímpicos. Com isso, a Inglaterra representou integralmente o Reino Unido nos Jogos de Tóquio, caindo nas quartas de final em um emocionante 4 a 3 frente a Austrália.

Os recentes resultados em torneios oficiais fizeram com que a crença de um título na próxima Euro, sediada na própria Inglaterra, crescesse entre a população e imprensa. Paralelo a isso, o aumento de importância da liga inglesa em torneios de clubes da UEFA demonstrava o grau de evolução do futebol feminino no país.

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As Leoas iniciaram vencendo a Áustria por 1 a 0 e depois deram implacáveis goleadas contra Noruega (8 a 0) e Irlanda do Norte (5 a 0). Nas quartas, derrotaram a Espanha por 2 a 1 e nas semifinais golearam a Suécia por 4 a 0. Na final, em uma lotada Wembley, a equipe enfrentou a temida Alemanha mais uma vez na decisão. E depois de um empate em 1 a 1 no tempo normal, conseguiram um gol na prorrogação para levantar o mais importante torneio do continente. Foi a primeira vez que uma seleção inglesa, masculina ou feminina, se torna campeã de um torneio oficial após a conquista da Copa do Mundo de 1966.

Inglaterra na Copa do Mundo 2023

Com duas chegadas as semifinais mundiais e um título europeu, este é o melhor momento da Seleção Inglesa e as atletas querem aproveitar a fase para enfiar levantar um poderoso título mundial. Na preparação, a equipe conquistou o troféu da inédita Finalissima – taça de jogo único entre vencedor da Copa América e da Eurocopa – e chega a Copa para estrear no dia 22/7 contra o Haiti em Brisbane. Seis dias depois, as Leoas recebem a Dinamarca em Sydney e encerram sua participação contra a China no dia 1/8 em Adelaide.

Dentre as muitas estrelas da equipe, um dos maiores destaques vai para a lateral Lucy Bronze. Boa marcadora e exímia nos contra-ataques, a jogadora é uma das veteranas do English Team e tem uma presença que motiva e lidera sua equipe em campo. Ao lado dela, a goleira Mary Earps – considerada uma das melhores do mundo – a meia Keira Walsh e a atacante Lauren James prometem levar as Leoas para uma posição inédita em mundiais de futebol.

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