Mais de 2 milhões de crianças estão fora da creche por dificuldade de acesso.
Sem a vaga, a renda da família foi comprometida.
Um levantamento da ONG Todos Pela Educação, baseado em dados da PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) e do Censo Escolar, revela que, apesar do aumento no número de matrículas em creches no Brasil entre 2016 e 2024, as desigualdades no acesso se agravaram.
O estudo mostra que 41,2% das crianças de até 3 anos são atendidas no país, índice abaixo da meta de 50% estabelecida pelo Plano Nacional de Educação (PNE) para 2024. No período analisado, a diferença entre o atendimento às crianças das famílias mais pobres e mais ricas passou de 22 para 29,4 pontos percentuais. Atualmente, 30,6% das crianças entre os mais pobres frequentam creches, contra 60% entre as mais ricas.
De acordo com a pesquisa, quase 2,3 milhões de crianças de até 3 anos estão fora da creche por dificuldades de acesso, como falta de vagas ou ausência de unidades próximas. A situação é ainda mais crítica entre os bebês de até 1 ano: apenas 18,6% são atendidos. Entre as famílias mais pobres, 34% enfrentam algum tipo de barreira, contra 24,8% na média nacional. A ONG ressalta que, embora a creche não seja obrigatória, o poder público deve atender à demanda existente.
Na pré-escola, etapa obrigatória da Educação Básica para crianças de 4 e 5 anos, a taxa de atendimento é de 94,6%. Em 2024, mais de 329 mil crianças dessa faixa etária estavam fora da escola. Entre famílias mais pobres, a principal razão é a dificuldade de acesso; já entre as mais ricas, o motivo predominante é a escolha dos responsáveis.
O levantamento também aponta desigualdades regionais. Norte e Nordeste apresentam os piores indicadores. Em 2024, São Paulo teve a maior taxa de atendimento em creches (56,8%) e o Amapá, a menor (9,7%). Na pré-escola, apenas o Piauí atingiu a universalização, enquanto o Amapá registrou 69,8% de cobertura.
Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília